terça-feira, 1 de maio de 2012

ECONOMIA: TRABALHO EM CASA GANHA ESPAÇO


Cerca de 20 milhões de brasileiros, precisamente 19.994.952, moram e trabalham no mesmo endereço. A proporção é de quase um quarto da mão de obra ocupada do país. Na pesquisa inédita feita no Censo de 2010 e divulgada na última sexta-feira pelo IBGE, essa parcela se repete em qualquer região do país. Norte (26,5%) e Sul (24,2%) são as duas com maiores percentuais de pessoas trabalhando no próprio domicílio. Há, ainda, 22,7% no Nordeste, 22,3% no Sudeste e 23,2% no Centro-Oeste.

Apesar de ainda não haver detalhes dessa nova realidade captada pelos recenseadores, acredita-se que o trabalho remoto seja um movimento muito incipiente. Postos de trabalho agrícolas, artesanais e ocupados por mulheres, como cozinheiras e costureiras, apresentam-se como os que concentram a maior parte dessa população. Segundo a pesquisa, a grande maioria dos ocupados trabalha na mesma cidade em que moram: 64%. Há ainda uma parcela considerável - quase um milhão de pessoas - que trabalha em mais de uma cidade ou país.

Os dados fazem parte da mesma sondagem que revelou detalhes dos sérios problemas que brasileiros enfrentam para chegar, diariamente, a seus locais de trabalho. O Estado do Rio registrou os piores resultados: o IBGE mostra que 23,1% dos maiores de dez anos que têm alguma ocupação gastam mais de uma hora no percurso para o emprego.

Para Claudio Dedecca, professor titular de Economia Social e do Trabalho da Unicamp, é preciso ter atenção para uma possível "glamourização" do trabalho em casa. Ele afirma que, apesar de ainda não haver detalhes sobre as profissões envolvidas no cálculo do IBGE, o trabalho rural certamente tem um peso importante.

"Esse resultado está fortemente influenciado pela população rural. As perguntas são: aumentou ou diminuiu? É alto ou baixo? Eu diria que (o total dos que trabalham em casa) é respeitável", diz o professor, que opina sobre a prática de ter a casa como local de trabalho. "Existe uma visão um pouco glamourosa idealista como se fosse uma vantagem que daria maior liberdade. É falsa. Algumas pessoas podem conseguir isso, mas, para a maioria, tem consequências desfavoráveis. Em geral, o tempo total de trabalho é elevado".

"Há o lado positivo da independência"

O contingente da pesquisa é formado por profissionais como artesãos, porteiros, agricultores, manicures, cabeleireiros, mecânicos e vendedores de porta a porta. Dentro desse grupo, em menor escala, estão também os que trabalham remotamente."Certamente, esse universo tem muito de quem trabalha por conta própria. O trabalho remoto, por ainda não ser uma realidade das relações de trabalho no Brasil, deve ser algo residual", diz Vandeli Guerra, pesquisadora do IBGE.

Professor titular do Instituto de Economia da UFRJ, João Saboia chama a atenção para a presença da informalidade na atividade dos que disseram que não saem de casa para trabalhar: "Acho que, e talvez os dados do Censo confirmem isso, boa parte esteja na informalidade e talvez até ganhando muito bem, com muitos clientes. Mas alguns estão aproveitando as tecnologias de informação para trabalhar a distância sem precisar se locomover. É uma grande vantagem. Não temos que ter uma leitura negativa para isso. Há o lado positivo da independência. A jornada detrabalho fica mais longa, mas, quanto mais a pessoa produzir, mais ela vai ganhar". 

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